sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Turma do Pererê

A Turma do Pererê foi lançada na revista O Cruzeiro, em 1959, e se tornou o marco do quadrinho nacional. Criada pelo cartunista Ziraldo, a coleção conta as travessuras de um grupo de amigos na Mata do Fundão. Pererê, um menino negro inspirado na figura folclórica do Saci,e seus amigos; o índio Tininim, o macaco Alan, a onça Galileu, o jabuti Moacir, a Boneca-de-Piche, a mãe Docelina vivenciam situações que estão no cotidiano das crianças, mas difíceis de tratar tanto na escola quanto em casa. Entre os assuntos abordadoscom naturalidade por Ziraldo estão saúde, ética, pluralidade cultural, preservação da natureza e drogas. Para o autor, a coleção procura ser uma nova abordagem na relação da escola com o aluno, uma extensão do aprendizado, uma inserção criança em um universo de curiosidade e emoção.

Revista Gibi

A revista Gibi não foi a primeira revista em quadrinhos do Brasil, nem foi a “maior” revista em termos de importância. poderia soar ofensivo a grandes publicações como O Tico Tico e Era uma Vez…, que ajudaram a consolidar as publicações de hqs em nossa terra.
Mas seu lugar na história dos quadrinhos no Brasil estava garantido já na primeira década em que a revista do grupo Globo circulou. A palavra gibi,“moleque” ou “negrinho”, competia com a Mirim (do tupi, e que significa pequeno)de Adolfo Aizen. Ambas eram diretamente vinculadas aos jornais de seus proprietários (O Globo e A Nação).
Antes de avançarmos, vale a pena verificar alguns dos significados atribuídos à palavra gibi. Esse retorno histórico é necessário pois o uso desta palavra está restrita, ainda que conste em alguns dicionários de Portugal, conforme poderemos ver a seguir (mas sem apresentar uso corrente):
No dicionário Priberam (http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=gibi), a palavra apresenta a seguinte definição:
gibi
s. m.
1. Bras. Pop. Negro.
2.Tipo feio e grosseiro.
Como não é uma palavra de uso comum em Portugal, podemos tomar por essa definição o uso dado à palavra gibi no Brasil em sua origem, nas primeiras décadas do século XX. Já o dicionário Aurélio, em sua 7ª edição,gibi da seguinte maneira: nos define
SM. Brasi. 1. Nome registrado de determinada revista em quadrinhos, infanto-juvenil. 2. P.ext. Qualquer revista em quadrinhos.
Certamente, a definição do dicionário Aurélio se aproxima mais do que temos como entendimento do significado da palavra. Recorro ainda a mais uma definição, esta retirada do Dicionário contemporâneo da língua portuguesa Caldas Aulete:
(gi.bi) Bras.
sm.
1  Pop.  Nome dado às revistas em quadrinhos, ger. infanto-juvenis: “Muitos leram gibi quando crianças e jovens.”
2  Gír.  Menino negro; NEGRINHO.
[F.: De or.obsc.]
Não estar no gibi
1   Bras.   Pop.  Ser fora do comum, extraordinário: “O talento dela não está no gibi”.
A definição original do verbete (década de 1950) era: s. m. (Bras.) negrinho, moleque.  (Rio de Janeiro) Revista de quadrinhos.
Estas duas últimas definições são as que elegi para este texto. Primeiro, pela importância histórico-cultural que a revista Gibi representa. Nenhuma das fontes ora pesquisadas citou a origem etimológicada palavra. Ressalvo que aceito como complemento a definição apresentada pelo dicionário Aurélio, que por extensão entende como gibi qualquer revista em quadrinhos.


HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NO GIBI
Em seu livro A guerra dos gibis (Companhia das Letras, 2004), o pesquisador carioca Gonçalo Júnior nos presenteia com os bastidores da formação do mercado editorial no Brasil e a censura aos quadrinhos. Sobretudo em sua primeira parte, em que narra o surgimento das revistas em quadrinhos e a rivalidade entre o jornalista Roberto Marinho e Adolfo Aizen (que veio a ser fundador da extinta EBAL), é um texto que mostra a dimensão e a importância dos quadrinhos para a consolidação de nossa imprensa.
Dessa disputa, a palavra gibi surge para nomear uma publicação de grande apelo popular destinada a um público fiel de jovens e ávidos leitores. Lançada no final da década de 30, podemos especular que o termo tenha ganhado força e se consolidado como sinônimo de histórias em quadrinhos nos dez anos que se seguiram ao seu lançamento.
Tão importante quanto esse fato é a mudança do sentido semântico da palavra, que em sua origem era um termo pejorativo e passa a denominar inicialmente um gênero literário, e mais recentemente um espaço imaginário. Essa mudança é um dos exemplos da apropriação do sentido pela língua oral, enfatizada pelo uso do termo pela mídia.
Os jornaleiros que vendiam as publicações de Aizen e Marinho em pouco tempo passaram também a ser chamados de gibi, daí o símbolo renovado da revista com chapéu de jornaleiro na década de 70.
Com tiragens na casa dos milhares, as revistas das décadas iniciais da imprensa brasileira agiam como catalisadoras do imaginário de centenas de milhares de jovens. A figura do negro no logotipo da Gibi integrava esse imaginário. Aos poucos, o próprio termo (usado principalmente no Rio de Janeiro) caiu em desuso e passou a ser simplesmente sinônimode revista de quadrinhos.
Pelas páginas da extinta revista Gibi foram introduzidos personagens que hoje fazem parte da história universal dos quadrinhos, como Ferdinando e,, dentre muitos outros. Brucutu
As mudanças no sentido da palavra começam a ser mais sentidas com a mudança das grandes editoras do Rio de Janeiro para São Paulo. Vale lembrar que o uso corrente da expressão gibi era muito difundido no Rio e pouco em São Paulo. Ali começava uma nova fase da palavra gibi.
Hoje é comum a um cidadão utilizar a expressão “não está no gibi” sem a obrigatoriedade de estar recorrendo à revista em quadrinhos. Agora gibi é lugar, terra fantástica onde estão as coisas incríveis ou inacreditáveis.
O autor de TAZ (Zona Autônoma Temporária, em inglês), Hakim Bey, nos descreve este século (XXI) como o primeiro no qual não existem terras incógnitas. Tudo foi descoberto, tudo foi conquistado, num pensamento de estado capitalista, onde não existe o novo e tudo possui uma propriedade. Apesar de concordar plenamente com o autor, levanto a questão que limita a definição de “terra incógnita”.
Para nós do território das letras, os significados e os significantes assumem esse papel mágico de terra incógnita. Ainda que convergentes na língua portuguesa, para um português de nascença, gibi jamais será sinônimo de revista em quadrinhos, e quadrinhos para um brasileiro jamais será banda desenhada. Por essa perspectiva ainda temos muito o que descobrir.
Há, no entanto, o estrangeirismo convergente, aquele que fez com que novos autores (brasileiros e portugueses) optassem por utilizar o termo estado-unidense graphic novel para denominar suas publicações, em detrimento algumas vezes de nosso querido gibi.
Não posso realizar uma defesa do uso de uma expressão, uma vez que isso é função de cada autor individualmente. Mas como referência histórica, encontro-me hoje virtual e presencialmente ante vocês com um texto que busca um mínimo resgate das origens das revistas em quadrinhos no Brasil. Trata-se de preservar a memória, para sabermos de qual porto partimos para nos encontrarmos aqui hoje.
Em 12 de abril de 1939, numa quarta-feira, chegava às bancas do país uma revista em quadrinhos chamada Gibi. Hoje, em 12 de abril de 2010, ainda podemos chegar a uma banca de revista, a um comic shop, e questionar o vendedor: “Quanto custa este gibi?”. Certamente, ele saberá que não estamos falando de outra coisa que não seja uma revista em quadrinhos.
Sete décadas depois, torcemos para que a história do gibi no Brasil continue em sua forma impressa, e agora também digital, como um dos símbolos da formação de nossa identidade cultural.

Amauri de Paula

Fonte: quadrinho.com

O Tico-Tico

Zé Caipora, de Angelo Agostini.

Nosso país também teve seu precursor na criação de histórias de características quadrinizantes. Foi Ângelo Agostini, cartunista italiano radicado no Brasil. Agostini, autor de desenhos de teor cômico, mas ainda assim de cunho crítico, utilizava-se em suas histórias dos cortes gráficos que viriam a ser um dos elementos determinantes na futura criação das histórias em quadrinhos.

Em 30 de janeiro de 1869 surgia, então, a primeira história em quadrinhos brasileira: era As Aventuras de Nhô Quim. Publicada pela revista Vida Fluminense, do Rio de Janeiro, a história contava, em episódios, as desventuras de um homem simples do interior do Brasil. O primeiro capítulo possuía 20 imagens em páginas duplas e chamava-se “De Minas ao Rio de Janeiro”.

Agostini produziu, sem periodicidade certa, nove capítulos das aventuras de Nhô Quim. Dois anos depois da publicação de seu nono episódio, a história foi continuada pelo cartunista Cândido Aragonês de Faria, que publicou mais cinco capítulos do personagem. Em 1883, o Agostini deu início à sua segunda série, As Aventuras de Zé Caipora, publicada na Revista Illustrada.

Recentemente, o Senado Federal lançou um álbum de luxo, organizado pelo jornalista Athos Eichler Cardoso, que republica as aventuras dos dois personagens e mostra às novas gerações o traço afiado de Agostini, e como ele conseguiu, por meio deles, captar a vida política e do povo de sua época.

E no mesmo ano da publicação de Little Nemo nos Estados Unidos, surge no Brasil a revista O Tico-Tico. Idealizada por Manuel Bonfim e Renato de Castro, a revista possuía uma tiragem inicial de 27 mil exemplares e foi publicada até o fim dos anos 1950. No começo, a maioria do material de suas páginas era franco-americano, que foi sendo substituído ao longo do tempo por trabalhos de artistas nacionais, quadrinizados ou não. Passaram por suas páginas artistas como Alfredo Storni, Cícero Valladares, Nino Borges e J. Carlos, que contribuíram para que a revista trouxesse sempre informações históricas, folclóricas e geográficas de nosso país.

A revista, ainda assim, publicava material estrangeiro como As Aventuras do Gato Maluco (de Herriman), As Aventuras do Ratinho Curioso (na verdade, Mickey Mouse), As Aventuras do Gato Félix e As Aventuras de Chiquita (a francesa Bécassine). Mas o personagem símbolo de O Tico-Tico viria a ser Chiquinho, que na verdade era o personagem norte-americano Buster Brown, lançado por R.F. Outcault em 1902. Mas se os desenhos eram decalcados diretamente do suplemento original onde era publicado, o cartunista Luís Gomes Loureiro procurava adaptar as histórias à realidade brasileira, o que culminou na inclusão de um personagem inexistente na série americana: o negro Benjamim.

O Tico-Tico, de 1905.

Em 2005, comemorando o centenário de O Tico-Tico, a editora Opera Graphica lançou um livro com artigos sobre a revista, assinados por diversos especialistas em histórias em quadrinhos, como Álvaro de Moya e Sonia M. Bibe Luyten.

Edição Comemorativa de 100 anos de O Tico-Tico.


Fonte:  hqmaniacs.uol.com.br

Introdução à História do HQ Brasileiro

A publicação de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do século XX. No país o estilo comics dos super-heróis americanos é o predominante, mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses (conhecidos como Mangá). Artistas brasileiros têm trabalhado com ambos os estilos. No caso dos comics alguns já conquistaram fama internacional (como Roger Cruz que desenhou X-Men e Mike Deodato que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros).


A única vertente dos quadrinhos da qual se pode dizer que desenvolveu-se um conjunto de características profundamente nacional é a tira. Apesar de não ser originária do Brasil, no país ela desenvolveu características diferenciadas. Sob a influência da rebeldia contra a ditadura durante os anos 60 e mais tarde de grandes nomes dos quadrinhos underground nos 80 (muitos dos quais ainda em atividade), a tira brasileira ganhou uma personalidade muito mais "ácida" e menos comportada do que a americana.